quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Internet: "Já fomos mais inteligentes"



       Para nossa alegria, Pedro não devolveu o chip e Luiza foi para o Canadá. Mas infelizmente, a formiguinha morreu. 
       As frases que abrem nossa conversa ficaram famosas nos últimos anos - por um curto tempo, que bom - após terem saído em situações corriqueiras, filmadas e postadas na internet. A graça... bem a graça não fica muito evidenciada nas frases, assim, por escrito. E em vídeo a situação não muda muito. Tudo bem, os vídeos tem lá seu humor, dá sim pra esquecer por alguns segundos os problemas do dia a dia. Mas estão longe, muito longe, de ser o melhor conteúdo já produzido por nós. 
       O sucesso é rápido e dura pouco. Os citados aqui são dos mais antigos porque sinceramente, duraram até muito. A tendência tem sido uma duração cada vez menor. Se tornou difícil acompanhar vídeos famosos que praticamente "pipocam" sobre nós todos os dias.
       Todas essas coisas poderiam ser deixadas de lado e talvez o leitor considere-as bem pouco relevantes - e não são mesmo grande coisa - não fosse o contexto que subsidia o crescimento e a consolidação dessa mentalidade idiotizada na nossa sociedade. O mal nessa situação está na importância cada vez maior que se dá a essas bobagens, enquanto temas que de fato influenciam sua vida, como questões sociais, ciências, política, tecnologia e educação de forma geral são deixados de lado e por vezes não tem espaço algum nas conversas das pessoas. 
      A frase do jornalista Carlos Nascimento, "e nós já fomos mais inteligentes" não deve ser tomada como uma ofensa, mas como um alerta. Nós estamos nos abrindo a um (já não tão) silencioso processo de idiotização - e eu nem vou entrar nos méritos da questão quanto às diversas teorias de que o próprio Estado teria interesse e participação nas diversas maneiras em que nossos cidadãos são alienados para não parecer a maníaca por conspirações, e porque esse não é o nosso assunto principal - onde as pessoas, sob um pretexto de liberdade de expressão ou pensamento (conceitos esses que vem sendo usados de forma deturpada na maior parte das vezes em que são citados) passam a ver como "cultura" e "conteúdo" as mais ilógicas e esdrúxulas situações e frases. Tudo bem que todos nós achamos graça em bobagens, mas levar isso pra nossa vida como bagagem de conhecimento é um pouco demais. Dar tanta atenção aos memes, gastar tanta energia buscando, criando e proliferando esse tipo de material é um desperdício de recursos humanos, de tecnologia, de sabedoria, de vida... 
       Nossos jovens não sabem lidar com livros, com arte, com qualquer informação mais densa que se lhes apresente porque estão cada vez mais acostumados a informações ralas, a um vocabulário curto e cheio de gírias, a uma cultura onde nada dura mais que alguns segundos ou alguns caracteres. 
       Não é que eu tenha nada contra quem gosta dessas coisas, já disse, é natural que nós achemos engraçado. O que não dá é pra se reduzir. A vida é mais que um vídeo no YouTube. Aliás, tenho que me atualizar não é? A vida é mais que um Vine. 

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